Disciplina Positiva – Parte 2

Oi, tudo bem?

Segue abaixo a continuação do texto que fala sobre a Disciplina Positiva.
Vamos lá?

🙂 Como funciona a disciplina positiva?

A disciplina positiva é um modelo educacional que se baseia no respeito mútuo e na cooperação (através do encorajamento e compreensão) aliados à firmeza. Estas atitudes são os alicerces para o ensino de competências importantes para a vida e para formar pessoas autoconfiantes, seguras e decididas.

Ganhar a adesão das crianças ou a sua cooperação passa por acreditar nas suas capacidades e por dedicar tempo ao ensino e ao treino de competências essenciais tais como:

 a responsabilidade
 a autodisciplina
 a resolução de problemas
 o interesse pelas questões sociais

♣ ATITUDES ESSENCIAIS

 respeito mútuo
 compreensão
empatia
 acreditar nas capacidades da criança
encorajar
 firmeza
 nunca humilhar
nunca dominar

As crianças estão mais dispostas a seguir regras que ajudam a estabelecer. Além disso, ao fazê-lo, ao serem membros que dão o seu contribuição na família e na sociedade, tornando-se pessoas que decidem de forma saudável.

🙂 Os 8 princípios da disciplina positiva (conceitos adlerianos básicos)

Podem ser comparados a um puzzle com muitas peças: é difícil ter uma perspectiva global enquanto não se tem a maior parte das peças (ou todas) encaixadas. Por vezes um princípio não faz sentido se não o combinarmos com outro, ou com outra atitude.

Não é necessário aceitar todos os princípios ao mesmo tempo – alguns dos conceitos que parecem ser difíceis de aceitar ou de compreender num determinado momento poderão fazer algum sentido, mais tarde.

Quanto melhor compreendermos os princípios subjacentes à disciplina positiva mais fácil será a sua aplicação prática.

1. As crianças são seres sociais

O seu comportamento é resultado do modo como se vêm a si mesmas e como pensam ser vistas pelos outros. Na interação com os outros vão formando crenças acerca de si próprias, do mundo e daquilo que precisam fazer para sobreviver ou ser bem sucedidas.

2. O seu comportamento é orientado por finalidades

Ao adotar determinado comportamento a criança procura obter determinado resultado. O comportamento baseia-se numa finalidade que pretende atingir. “As crianças são boas a perceber (sensíveis), mas más a interpretar” Dreikurs.

Geralmente:

 Não têm consciência clara do que pretendem obter;
 Têm ideias erradas de como atingir o que pretendem, e por vezes, com o seu comportamento “desajeitado” obtêm/provocam uma resposta oposta ao desejado;
 Fazem interpretações da realidade e comportam-se de acordo com a sua interpretação e não de acordo com a verdade.

3. As principais finalidades perseguidas pela criança são sentir que pertence a alguém e que é importante no meio social onde vive

4. Uma criança malcomportada é uma criança desencorajada/desanimada
Com o seu mau comportamento diz-nos que não se sente amada, que não se sente importante e está a tentar conquistar esse sentido de pertencimento ou de valor pessoal, baseando-se numa crença errada sobre a forma de consegui-lo.

5. Interesse social

Significa a existência de preocupação com as outras pessoas e de um desejo sincero de dar uma contribuição à sociedade.

É extremamente importante ensinar o interesse social às crianças. Que vale a aprendizagem acadêmica se os jovens não aprenderem a tornarem-se membros que dão uma contribuição para a sociedade?

Quando fazemos demais pelas crianças, retiramos-lhes a oportunidade de desenvolverem, através da própria experiência, a crença de que são pessoas capazes. Por isso Dreikurs afirmava: “Não faças nada por uma criança que ela consiga fazer sozinha”.

O primeiro passo no ensino do interesse social é fazer a criança confiar em si própria. Desta forma ela estará pronta a ajudar os outros e sentir-se-á extremamente capaz quando o fizer.

Se formos “super-pais”, super protetores, as crianças aprendem a esperar que o mundo os sirva, em vez de estarem ao serviço do mundo. Sempre que não obtiverem (sempre que os outros não estiverem dispostos a dar-lhe) aquilo que pensam e desejam, terão pena de si próprias e sentir-se-ão vítimas de injustiça.

É impressionante a quantidade de coisas que as crianças são capazes de pensar e fazer quando são convidadas a isso. A partilha de tarefas pode aumentar o sentido de pertença, ensinar competências importantes para a vida e permitir que as crianças experimentem o interesse social.

Ex: tem um final de semana em família?

a) Faça a lista de tarefas a fazer e reveja-a em família
b) Peça voluntários para cada uma
c) Certifique-se que todos têm, pelo menos uma tarefa, à sua responsabilidade
d) É importante implementar um sistema de rotação de responsabilidades

6. Igualdade

Não significa “o mesmo” a todo mundo. Por igualdade Adler entendia que todas as pessoas têm direito à dignidade e ao respeito.

7. Os erros como excelentes oportunidades de aprender:

Na nossa sociedade, somos ensinados a ter vergonha dos nossos erros. Todos somos imperfeitos: do que necessitamos é conseguir a coragem de mudar as nossas crenças debilitantes acerca da imperfeição.

Não existe no mundo um único ser perfeito, mas todos exigimos a perfeição de nós próprios e dos outros, especialmente das crianças.

Quando uma criança comete um erro e é chamada à atenção de forma humilhante, recebe a mensagem de que é estúpida, desajeitada, má, uma desilusão, um desastre. Nessa ocasião, inconscientemente, toma uma decisão sobre si própria e do que fazer no futuro, a qual pode ser:

a) sou má ou inadequada
b) não devo correr riscos pois podem voltar a humilhar-me, se os meus esforços não derem resultados perfeitos;
c) devo dizer que “sim” a tudo o que os adultos querem, para lhes agradar (apesar dos grandes custos que esta decisão acarreta para a auto-estima)
d) devo esconder os meus erros e fazer tudo o que estiver ao meu alcance para não ser apanhada.

Quando os pais enviam às crianças mensagens negativas sobre os seus erros a sua intenção é, normalmente, boa: eles estão a tentar motivá-las a serem melhores. Mas tantas vezes, as práticas de educação parental estão baseadas no medo:
– medo de não estar a cumprir suficientemente bem a sua tarefa de educadores
– medo de que as crianças nunca aprendam a proceder melhor
– medo de agir de forma permissiva
– medo do que os outros pensarão do seu método educativo, etc.

Necessitamos aprender e ensinar às crianças a aprender com os erros cometidos. Será importante aprendermos a dizer: “cometeu um erro: ok, vamos ver o que podemos aprender com ele”. Na verdade, nós adultos, somos co-responsáveis pela maioria dos erros cometidos pelas crianças.

Um aspecto central é, de fato, a aprendizagem da utilização dos erros enquanto oportunidades de aquisição de muitas competências importantes. Conseguiremos fazê-lo quando tivermos integrado “a coragem de ser imperfeitos” (Dreikurs).

Para consolidar esta atitude básica em nós, ajuda utilizar os Três Rs da Reparação de Erros:

Reconhecimento – “cometi um erro”:

É muito mais fácil assumir a responsabilidade por um erro, quando este é visto como uma oportunidade de aprendizagem e não como algo simplesmente mau. Se encararmos os erros como coisas unicamente más, tenderemos a sentir-nos incapazes e desencorajados, a tornarmo-nos defensivos, evasivos e críticos. Perdoarmo-nos a nós próprios é um elemento importante do primeiro R.

Reconciliação – “peço desculpas”

Uma atitude positiva conduz, naturalmente, à reconciliação. Quando pedimos sinceramente perdão, mesmo que o outro se sinta ressentido e zangado, num primeiro momento, abriremos caminho para, num segundo momento, ser capaz de um perdão total (e muito mais as crianças).

Resolução – procuramos juntos uma solução.

Os primeiros dois Rs criam um ambiente positivo para que se trabalhem soluções. Tentar encontrar soluções quando o ambiente é hostil é totalmente improdutivo.

Adultos e crianças mesmo quando já sabemos o que é melhor, nem sempre o fazemos. Como seres humanos, é comum ficarmos emocionalmente bloqueados e perdermos o bom-senso. Então agimos impensadamente em vez de agirmos refletidamente.
Quando os adultos assumem a responsabilidade daquilo que fizeram, que conduziu a um conflito (e qualquer conflito implica, pelo menos, duas pessoas) as crianças estão, geralmente, dispostas a seguir este modelo e a assumir elas próprias a sua responsabilidade na parte do conflito.

8. Certificar-se sempre que a mensagem de amor é recebida

Em qualquer conflito, desentendimento ou discussão é importante que em algum momento fique explicito o amor que se sente, a certeza de que para além do desentendimento está a apreciação da criança, o valor que tem para nós.

Fonte: Conversando com Bernardo / Livro Disciplina Positiva, de Jane Nelsen